B.S., 26 anos


    (13/06/20)  

“Quando me pediram para que eu desse meu depoimento sobre distúrbios alimentares, fiquei semanas tentando pensar em como escrever sobre uma coisa que faz parte da minha vida há tanto tempo. Como traduzir em palavras o que se passa na minha cabeça? Não sabia como relatar e por isso então resolvi, apenas, contar minha história.
É importante dizer que eu venho de uma família em que o esporte sempre foi algo muito importante para meus pais e meus irmãos, mas que eu nunca gostei muito. Sempre fui a “sedentária” da família desde de pequena. Era a criança que gostava de brincar de boneca por horas seguidas, bem como ler livros e mais livros por outras tantas. Não era a criança que vivia brincando de correr por aí. Por causa disso, meus pais me colocavam para praticar vários esportes, que eu não gostava o que acabou por agravar ainda mais o estigma de sedentária que já carregava (e carrego até hoje). Mas não me entenda mal, longe de mim não gostar de esportes, inclusive aprendi que gostava de vários com o decorrer dos anos, mas devido a minha resistência inicial a prática deles, o estigma já tinha ficado em mim. Acredito que por ser uma pessoa mais quieta, menos agitada, sempre serei vista como sedentária.

Somado a isso, aos 11 anos de idade eu já tinha corpo de mulher, enquanto minhas amigas ainda tinham corpos de criança. Eu era uma pessoa com peso normal, mas para a minha família eu sempre “precisava emagrecer uns 2 kilos”. Ja nessa idade me lembro de “peso” e “comida” ocuparem espaços muito grandes dos meus pensamentos e preocupações, de me sentir muito “cheinha” e tinha convicção que ficaria “melhor se emagrecesse”. A partir daí a fixação com peso nunca mais saiu da minha cabeça. 

Aos 15 comecei a fazer dietas. E permanecia em um efeito sanfona eterno (que permanecesse até hoje). Aos 16 comecei a utilizar laxantes. Aos 17 passei para dietas restritivas. De tempos em tempos eu tinha “melhoras” e tentava me alimentar melhor. Mas aí o peso voltava e eu ficava triste e ia para um período compulsivo e engordava mais ainda. Aos 19 passei a ser bulímica (vício que até hoje as vezes tenho). 

E o ciclo perda/ganho de peso não parava de acontecer. Numa dessas vezes que engordei muito, passei a me cortar para aliviar minhas dores psicológicas internas. Entrei em depressão. E a minha vida passou a ser definida em ciclos de depressão, porque estava com mais peso, períodos de restrição alimentar e emagrecimento; e voltava a engordar com períodos de compulsão. Aos 21 anos procurei tratamento pela primeira vez, ao qual não dei continuidade.
Aos 25 anos com um episódio depressivo mais pesado procurei atendimento mais uma vez. Hoje com quase 26 anos faço tratamento para a depressão e auto mutilação, mas ambas são resultados da minha relação conturbada com a alimentação e meu peso. 

Isso foi em poucas palavras um punhado da minha história. Espero que meu relato ajude a fazer com que outras pessoas não entrem nessa vida, nesses ciclos, porque por mais de já ter feito tratamento algumas vezes, é um problema constante, um exercício é uma luta diários, os quais tenho que estar sempre controlando em minha mente e percebo o quanto ainda será muito difícil eu voltar a ter uma relação saudável comigo mesma”